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“Dano e Excesso” - 2016


Por Wagner Barja

Águas de rebelião passam por baixo da ponte que leva à obra de Paul Setúbal.

“A margem também esta dentro do rio”.¹ – O corpo é a margem, lugar insólito onde se situa a ação de toda a obra desse artista insatisfeito. Ele fará significar o grave tom de sua narrativa, ao implodir a ordem linear das coisas. Pratica-se aqui a desordem do “Eu”, para dar vez ao surgimento do gesto primal.

Arte ou ritual? O corpo em oferenda ao deus da criação, na experiência e no sacrifício: expõe-se, expia-se e esvai-se na forte carga simbólica do ato. Na prática do autoflagelo o artista corta, ora para desenhar com o próprio sangue, ora para agregar bravura na urgência da linguagem.

O uso do “Eu” como suporte da manifestação, remete aos sacrifícios de práticas ancestrais, nas quais o homem adorou seus deuses e a eles ofertou a carne.

Na carne/objeto as cicatrizes são desenhos, os registros de uma linguagem limítrofe ao desfalecimento.

Excesso e dano.

O inconsciente insinua mensagens por meio de uma arte revelada nos sentidos. Eles pulsam e se exteriorizam na natureza ontológica dos objetos, aqui já impregnados pelo artista de memória e espírito.

(1) Rogério Duarte Guimarães

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