Residência resultado da premiação recebida pelo artista na 6ª edição do Prêmio FOCO Bradesco ArtRio em 2018
Texto crítico, por Victor Gorgulho, 2019
Como um artista-flâneur, Paul Setúbal utilizou seu período em residência na Despina para explorar o Rio de Janeiro em seu locus essencial: a rua. Em suas andanças pela antiga sede do império português, deixou-se fisgar por detalhes de ordens diversas, de detalhes arquitetônicos nos sobrados coloniais a símbolos militares espalhados por ruas, prédios, objetos, instituições e mais. Tais vestígios coloniais do balneário – enraizados em nosso imaginário e cotidiano – são a base da série de trabalhos iniciados durante a residência, em que o arista utiliza suportes como cintos e adornos de cela de cavalo para tecer (e subverter) as estórias neles inscritas. Valendo-se da ambiguidade destes objetos – usualmente peças de autoria desconhecida – o artista transforma-as em esculturas dotadas de narrativas, ainda que sutis. Paul coloca em cheque, então, a própria natureza destes ornamentos: entre a brutalidade e a torção, entre a história oficial e as histórias ocultas. O adorno colonial, entre o enfeite e a violência.